A professora Rosilda Alves da Silva, aluna de mestrado na UnB, promove uma viagem pelos quintais da memória de civilizações passadas

 

Texto Thaíse Torres Fotos Luis Gustavo Prado Ilustrações Igor Outeiral

 

Quando chegou à casa do pai, um mês e 15 dias depois de ser esfaqueada pelo marido, Rosilda Alves da Silva ainda convalescia do trauma e da operação para drenagem da hemorragia. No povoado de São José, interior de Goiás, a 84 km de Cavalcante por estrada de terra, ela comemorou a volta às origens: “Pessoas que nunca tinham me visto, ou de quem eu não me lembrava mais, levavam comida para mim e para meu filho Leonardo, e muitos remédios”.

 

Hoje com 36 anos, casada novamente e com dois filhos, é aluna do Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais (MESPT) do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS), campus Ribeiro. Ela nasceu na região de Traíra, norte de Goiás, mas foi muito cedo para Minaçu, quase na divisa com Tocantins, para estudar. “Meu pai fazia questão e eu sempre tive gosto em aprender”, diz.

 

Antes do final do período de recuperação recomendado pelos médicos, que seriam 90 dias, Rosilda aceitou o cargo de professora na escola João de Deus Coutinho, a única em São José. Na época, ela tinha somente o ensino médio e dava aulas para ensino fundamental. Mulher de maçãs do rosto salientes, coradas pelo sol, afirma que tudo aconteceu em 2010. “Terminei o relacionamento, voltei para a terra dos meus ancestrais, consegui emprego e ainda passei na UnB! Sempre ouvia que era para filho de rico, nunca imaginei que conseguiria.”

 

Na Universidade de Brasília (UnB), ingressou na Licenciatura em Educação do Campo, oferecida pelo campus de Planaltina. O curso é realizado em alternância. Os alunos têm o chamado Tempo Escola, em que passam dois meses na UnB e aprendem não só as teorias, mas como aplicá-las, e o Tempo Comunidade, em que executam, nas escolas rurais, o que viram na faculdade.

 

Foto Dia de excursão: trecho de Cerrado, que liga a escola às casas, fica bem no centro da cidade

 

Comprometida com uma educação que prepare os jovens para o futuro, ao mesmo tempo em que valoriza o conhecimento local, Rosilda escolheu como trabalho de conclusão de curso estudar, em São José, a transmissão de mitos e lendas pela interação entre os jovens e as pessoas mais velhas da comunidade.

 

AULA NO CAMPO

 

“Foi no curso de Educação do Campo que me inspirei muito além do que eu já tinha vivido aqui na comunidade”, lembra, sorridente. Ela leu trabalhos sobre plantas medicinais dentro de outras comunidades e conta que ficou muito curiosa ao pensar que isso era parte essencial da vida em São José e, no entanto, como não havia nada formalmente registrado, ia se perdendo com a morte das pessoas mais velhas.

 

“Aqui temos uma confiança muito grande nos conhecimentos medicinais uns dos outros, então muitas vezes bebemos coisas que nem sabemos o que são, com a certeza de que farão bem. Percebi a importância desse conhecimento e isso me cativou. Reconheci nossa diversidade cultural e achei que poderia contribuir para não perder nossa tradição.”

 

Quando, cerca de um ano e meio depois, surgiu a oportunidade de fazer o mestrado, ela se submeteu à seleção no MESPT e foi aprovada em terceiro lugar. A opção de trabalhar primeiro com os alunos e daí partir para a comunidade foi a mais viável para Rosilda, uma vez que é professora da escola. A classe é multisseriada, o que é um desafio para qualquer professor; porém, para Rosilda, constitui uma chance de introduzir conteúdos locais e experimentar com os estudantes.

 

Uma dinâmica sobre plantas medicinais, por exemplo, envolve uma saída de campo pela comunidade. Andando pelo chão coberto com uma poeira, ora vermelha, ora branca, meninas e meninos percorrem a trilha no Cerrado que leva aos quintais dos mais velhos habitantes de São José. No quintal denso e sombreado de Dorama Francisco Maia, os jovens fazem a primeira parada.

 

Alecrim é bom para labirintite, sinusite e enxaqueca. O chá de folha de amora e tamarindo é calmante e faz bem para o colesterol; chá de carrapicho é tratamento para infecção de urina da mulher”, aponta Dorama, folha por folha. No espaço, cuidado diariamente, há plantas como angá (ingá), baru e chapéu-de-couro. Para chegar às plantas de um lado e de outro, os alunos precisam passar pelo forno de assar bolos, construção de barro que fica embaixo de um palheiro, atrás da casa de alvenaria, uma das poucas que há ali.

 

Durante os passeios, os professores Ana Carolina de Deus Coutinho, Lusmar Francisco Ferreira e Rosilda fazem perguntas para estimular os alunos, uma vez que o que é visto no passeio precisa ser apresentado em forma de trabalho ao término da excursão. Não há cerca que divida os espaços, e a passagem de umquintal para o outro acontece sem se perceber. Marcelina Francisco da Conceição, sogra e vizinha de Dorama, também recebe o grupo. Quando alguém precisa de socorro, é na porta dela que bate, e sempre há um chazinho eficaz. “Chá de folhas amareladas de jaca e abacateiro é um remédio muito bom para os rins”, garante Marcelina.

 

Ao retornar à escola, que funciona em uma sala do posto de saúde — ali também são realizados os eventos locais —, estudantes de todos os anos têm a tarefa de produzir algo sobre a experiência. As atividades, escolhidas em conjunto por alunos e professores, seguem o estabelecido na Base Nacional Comum Curricular. O primeiro grupo opta por apresentar um teatro em que, fazendo o papel de pacientes de um hospital, os alunos simulam doenças e comparam os efeitos de remédios de farmácia e os tradicionais. Os outros dois grupos escrevem poemas, e os recitam para todos.

 

“Gosto muito mais de vir para a escola em dias assim”, confessa Vanderley Batista Neto. O rapaz de 15 anos, que veio de outra cidade, já havia repetido o sexto ano duas vezes antes de chegar ao povoado para morar com os avós. Agora, ele se diz mais estimulado a estudar. Para Raíssa Araújo Silva, 12, que também cursa o sexto ano, as aulas são uma deixa para conversar com os mais velhos e geram interesse pelos temas desta ciência natural: “Eu já conhecia muita coisa pela minha avó, mas hoje sei mais. Pergunto para ela das plantas e levo para a escola o que ela fala.”

 

A dissertação de Rosilda tem o título provisório de Transmitindo saberes sobre as plantas medicinais no Povoado São José. Ela já passou pela qualificação e deve defender o projeto em junho. “No âmbito do MESPT, o legado do trabalho de Rosilda é a metodologia. O grande diferencial é a valorização dos idosos e a preservação da memória da comunidade”, opina Carlos Alexandre Plínio dos Santos, orientador e professor do Programa de Pós- -Graduação em Antropologia Social. “Nosso projeto busca transformar também o pensar acadêmico, aprendendo com a perspectiva trazida pelos saberes das comunidades tradicionais”, acrescenta Mônica Nogueira, coordenadora do MESPT. Carlos conta que a proposta lhe chamou a atenção desde o processo seletivo do MESPT. Os jovens passam a se perguntar quem são e a valorizar a história de vida dos ancestrais.

 

Rosilda Alves da Silva se radicou em Goiânia, tem um novo companheiro e mais um filho. Considera o trabalho na escola João de Deus Coutinho uma forma de retribuir o carinho e o acolhimento recebidos. “Estou promovendo a troca que existia antes, já que hoje temos menos pessoas e o interesse fora da sala de aula talvez já não seja tanto”.

 

EDUCAÇÃO NO CAMPO

 

Com o objetivo de formar professores e educadores para as escolas do campo, a Licenciatura em Educação no Campo, oferecida na Faculdade UnB Planaltina (FUP), tem uma matriz curricular que desenvolve uma estratégia multidisciplinar, organizada em Ciências da Natureza, Matemática e Linguagens, Artes e Literatura. Anualmente, o vestibular, que tem processo seletivo específico, oferece 60 vagas para estudantes que residam no campo e pertençam às regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A Licenciatura em Educação do Campo luta para que a escola seja um lugar privilegiado de formação, conhecimento e cultura, valores e identidade das crianças, adolescentes, jovens e adultos buscando formar educadores que sejam referência para políti- cas públicas de Educação do Campo. O curso de oito semestres é dividido em Tempo Escola — em que o aluno passa dois meses em aulas no campus — e Tempo Comunidade —, quando pratica os conhecimentos adquiridos.

 

EM SÃO JOSÉ, TRADIÇÃO E SIMPLICIDADE

 

No povoado de São José, município de Cavalcante (GO), as casas se misturam com a vegetação do Cerrado. Em um formato triangular, as linhas de São José são simples como as pessoas que ali habitam. As ruas são de terra. As casas baixas são de adobe e alvenaria. Elas são separadas por apenas um quintal ou pela vegetação rasteira do Cerrado: grama, arbustos baixos e algumas árvores.

 

Nem todas as casas têm moradores. Das 73 moradias, muitas estão abandonadas, seja porque os habitantes saíram em busca de oportunidades em outros lugares, seja pela morte dos ocupantes. Não há energia elétrica, sinal de celular ou internet. Atualmente, as casas contam com captação de energia solar, suficiente para acender algumas lâmpadas, carregar telefones e talvez assistir TV.

 

“A internet, já tivemos na escola, só que não funciona mais. Talvez seja a bateria”, lembra o coordenador da escola João de Deus Coutinho, Lusmar Francisco Ferreira. Com isso, a comunicação de todo o povoado dá-se por meio de um único orelhão, ou de idas a locais vizinhos que ainda possuem internet. “Eles deixam a gente usar quando precisa. Não abusando, dá para falar com um familiar que mora fora ou mandar um recado”, acrescenta Rosilda Alves da Silva.

 

Foto Para chegar lá, é preciso percorrer cerca de 80 quilômetros em estrada de terra desde Cavalcante (GO)

 

A escola, que abriga 45 alunos de São José e regiões vizinhas, fica bem no centro do povoado. Ao redor dela, o posto de saúde — que conta com uma auxiliar de enfermagem — dois bares, o centro de múltiplo uso, algumas casas e as duas igrejas nas mesmas imediações, uma de cada lado.

 

Meninas e meninos correm pelas ruas, sobem em pés de fruta e as comem ali mesmo, no pé. “Não mexa nessa aí, menino! Está no quintal da vizinha”, ralha uma moradora. No povoado de São José, o transporte ágil de uma ponta a outra é feito de moto. Cada família tem, além do quintal, a roça, que fica depois da Serra. Caminhando, leva-se muito tempo, mas a moto ajuda crianças, idosos e jovens adultos a ir trabalhar quase que diariamente na lavoura.

 

De lá saem os ingredientes para a alimentação diária dos moradores da comunidade:mandioca, abóbora, cebola, alho, milho, rúcula, couve, alface, banana, beterraba, leite. Esses são itens para o ano todo. Pitomba, jabuticaba, abacate, abacaxi, cajamanga, mangaba, baquari, cajá e jaca, quando o cerrado floresce e fruteia.

 

Carne não é item frequente no cardápio. Às vezes, ela é consumida refogada, assim que o animal é morto, mas é preciso transformá-la em carne seca ou charque, uma vez que a falta de geladeira não permite que o item dure muito tempo em condições para consumo. “Não faz bem comer carne todo dia também”, afirma Marcelina. Já os ovos têm todo dia. Às vezes matam um frango, ou as crianças vão pescar e voltam com piabas do rio.

 

Todo fim de tarde, antes do pôr do sol, pode-se ouvir gritos animados próximos da escola ou abaixo das casas, para além da igreja católica. No primeiro campo, futebol. No segundo, a febre das crianças atualmente: queimada. Os pais, tranquilos, já sabem onde encontrar as crianças, algumas bem jovens, outras na adolescência. Para desviar da bola, vale tudo em termos de agilidade. Alguns se jogam no cascalho que forra o chão desse lado da comunidade, outras na grama baixa e alguns só se esquivam de maneira ágil.

 

O sol se põe e a cidade parece deserta. Não é possível ver muitas luzes acesas. Os bares ao redor da escola são praticamente as únicas luzes. A luz do estabelecimento de Seu Jó é fraca, o suficiente para agregar três ou quatro homensque jogam conversa fora.

 

As portas e janelas fechadas guardam seus moradores. Alguns, à luz de vela, outros com lâmpadas, enquanto a bateria carregada pela energia solar aguentar. É hora de “comê, banhá e relaxá antes de dormir”, como resume Dorama.

 

SER OU NÃO SER QUILOMBOLA

 

Os moradores do povoado de São José não são certificados como povos remanescentes de quilombos, embora habitem uma área reconhecida em Cavalcante como território Kalunga. Eles co- nhecem suas origens culturais e, internamente, em sua maioria, assumem que são remanescentes de quilombos vizinhos, como as quatro comunidades reconhecidas.

 

“Muitos dos nossos costumes são iguais, mas, quando aconteceu a discussão sobre o assunto, não houve concordância, principalmente pelos efeitos sobre a divisão das terras que, para nós, já é assunto resolvido”, explica a professora Rosilda Alves da Silva. Outros moradores temem que a certificação possa interferir nos hábitos locais, como outros povoados que recebem turistas e se dividiram em associações.

 

Para obter o reconhecimento como povo quilombola, a própria comunidade precisa fazer a solicitação e encaminhar relatos históricos, fotos e testemunhos. Se a documentação estiver correta, segue-se a visita técnica de um membro da Fundação Palmares e, em caso de aceite, posterior publicação no Diário Oficial da União.

 

Com a certificação de autodefinição como comunidade remanescente de quilombo em mãos, é possível solicitar acesso às políticas públicas específicas, relacionadas a saúde, educação, moradia, infraestrutura de saneamento e abastecimento. Na mesma região, as comunidades Kalunga, Capela, São Domingos e dos Morros se beneficiam de in- centivos adequados à sua realidade, definidos por políticas federais, diferentemente de São José, que está inserida nas políticas regulares do estado de Goiás e do município de Cavalcante.

 

PARA OS RINS

 

Duas folhas de abacateiro amareladas, duas folhas de jaqueira amareladas. Ferver juntamente com cerca de dois litros de água. Beber ao longo do dia.

 

ESTE CHÁ SALVOU MINHA VIDA

 

Marcelina Francisco da Conceição, mãe de sete filhos, avó de 12 netos e bisavó de um, é casada há 50 anos com Vintino Martins Godinho. O casal costuma ser a ajuda de emergência da comunidade de São José, em termos de saúde. “Pode tocar na porta às 3 da manhã que eles vêm socorrer”, afirma a professora Rosilda Alves da Silva.

 

Há 11 anos, Marcelina foi picada por uma jararaca enquanto andava na beira do rio. Levada para tratamento no Hospital Regional da Asa Norte, em Brasília, descobriu que a peçonha do réptil tinha ido parar em seus rins. “Tive que fazer até [he]modiálise”, conta. No entanto, Marcelina tem a convicção de que foi o chá de folhas amareladas de abacateiro e jaqueira que reestabeleceu a saúde.

 

PARA PRESSÃO ALTA

 

Água de chuchu ao longo do dia: descascar e picar um chuchu, deixar de molho na água e beber ao longo do dia.

 

Também se pode usar: chá de folha da negro-mina (conhecida como café-do-mato), e maracujá — folha (em forma de chá) e fruta. Contraindicado para quem tem pressão baixa.

 

DIZEM POR AÍ QUE NÃO CURA, MAS CURA

 

Evaldinho Ferreira Dourado nasceu e cresceu na região de São José. Há 23 anos, ele é agente de saúde concursado pelo estado de Goiás e presta serviço no município. Pai de oito filhos, incluindo os do segundo casamento, é ele quem assiste os 150 moradores do povoado — ou melhor, um total de 200, contando as outras casas que visita na região.

 

“A medicina caseira é o primeiro remédio”, ensina Evaldino. Com inúmeros cursos de formação na área, ele continua convicto de que os remédios naturais ajudam a manter a saúde dos moradores. “As pessoas têm hortas, que é onde estão os nutrientes. De lá vêm a boa alimentação e as plantas para remédios”, explica.

 

Ele não dispensa os fármacos para doenças crônicas, porém, é mesmo adepto de receitas caseiras para prevenir crises e auxiliar em tratamentos. “Chá de alho, ou comer o dente de alho cru, por exemplo, ajuda a afinar o sangue, evitar pressão alta e entupimento de veia. Um dos meus vizinhos tomou por cinco anos todos os dias e dizem que curou a hipertensão”, conta.

 

PARA ENXAQUECA E SINUSITE

 

Sementes de umburana, ramos de arnica, casca da lima de cheiro, buchinha e amescla. Colocar tudo em um vidro limpo e completar com álcool. Deixar curtir por 10 a 15 dias e cheirar diariamente, em especial quando em crise. Não deve ser utilizado por mulheres grávidas.

 

CRIANÇAS APRENDEM DESDE PEQUENAS

 

“Eu apelo logo para remédio de farmácia, não sei essas receitas, não”, declara Jaqueline Moreira dos Santos, merendeira da escola e esposa de Lusmar. Na hora do aperto, contudo, ela recomenda um sem-número e receitas, incluindo algumas que os filhos já fazem sozinhos: “Essa minha menina [diz apontando para Lara, 9], se sentir a garganta inflamada, coloca a casca de romã em infusão e gargoleja, sem eu mandar. Já sabe que aquilo ali vai resolver o problema dela. Se fez duas, três vezes e viu que não adiantou, ela me procura”.

 

A dor de garganta persiste? Chá de carrapicho com folha de algodão maduro. Para intestino preso, casca de laranja-da-terra. Para diabetes? A entrecasca da laranja-da-terra. E enxaqueca? “Ah! Eu tenho um remédio aqui”.

 

CACHAÇA NA PRATELEIRA

 

“Não sou raizeiro. Isso é só para vender bebida”, diz Juscelino Ferreira da Silva, o Seu Jó. Dono de bar na cidade, ele é casado há 37 anos e cria a neta. Os quatro filhos já são grandes. Dentro do estabelecimento, prateleiras de cachaças curtidas com diferentes tipos de plantas: cascas, raízes, sementes e ramos. Na comunidade, ele é apontado como o homem que mais sabe sobre plantas medicinais.

 

“Tem vez que eu tenho até uns 12 tipos de remédios. Essa época tô tendo oito. Tirando o murici, que vem do sertão, todos sou eu que tiro”, diz sobre as bebidas, apesar de frisar que não as vende pelas propriedades. Seu Jó diz que foi diagnosticado com doença de Chagas há nove anos. Na época, foi desenganado pelo médico. “Ainda estou aí”, reitera. “De vez em quando o coração incha e eu tomo chá de congonha e cotó-cotó, um mato daqui. Tem funcionado”, diz.

 

PARA DOR DE ESTÔMAGO E GRIPE

 

Chá da semente de umburana. Um punhadinho (cerca de seis sementes) para um copo de água. Ferver e tomar.

 

MINHA SOGRA É QUEM SABE MAIS

 

Dorama Francisco Maia aprendeu o que sabe sobre plantas medicinais com a mãe e a avó. As receitas foram testadas ao longo da vida e chanceladas pela prática. “Para criancinhas, bebês que estão com os dentes crescendo, é bom passar uma daquelas cebolinhas brancas pequenas, rachadas ao meio. Para gases, casca da umburana de molho ou poejo”, indica.

 

Com muito gosto, ela fala sobre alimentos que são consumidos pelo sabor na vida diária, e que possuem propriedades curativas. O apreço pelo tema é tanto que, em 2018, gravou um vídeo sobre as propriedades e usos das plantas encontradas em seu quintal e foi selecionada para uma mostra temática multiétnica que tratou de alimentação saudável, na 20ª edição do Festival Internacional de Cinema Ambiental. Todavia, Dorama acha que a sogra, Marcelina, é quem sabe mais.

 

“Este é o tamarindo, fruta azeda, muito saborosa. A gente usa para sucos e as folhas são muito importantes para insônia, pressão alta, além de ajudar no controle do colesterol. A fruta é usada como laxante”, recomenda no vídeo. Ao longo do passeio pelo quintal com as turmas da escola João de Deus Coutinho, ela destaca: “A gente aprende junto, no futuro isso serve para a gente ou para um colega deles. Esse conhecimento sobre plantas a gente sempre tem prazer de ensinar, de mostrar”.

 

PARA GRIPE, RESFRIADO E TOSSE

 

Quatro a cinco folhas de capim-de-cheiro (capim santo) e um limão rachado em cruz. Enquanto fervem, asse três dentes de alho na chama do fogão. Desligue o fogo, macete os dentes de alho, acrescente à mistura fervida e tome. É anti-inflamatório, antibiótico e age por dentro, curando de dentro para fora.

 

CADA PLANTA TEM UM USO

 

ARNICA Labirintite Sinusite Enxaqueca

 

BABOSA Hemorroidas Problemas de próstata “Duas maneiras de usar: cortar em cubinhos, colocar na água e beber; raspar a massa, fazer comprimidos com polvilho e deixar secar na sombra”

 

BARU DO CERRADO Anti-inflamatório Problemas de próstata Infecção do útero “Casca e vagem com vinho é bom para gastrite”

 

JATOBÁ Problemas de próstata Ferida no estômago Dor de barriga Chagas (resina) “Da casca se faz vinho bom para o coração”

 

MASTRUZ Para estômago “Fazer uma papa com o sumo e sal”

 

SALSA-DO-CAMPO Infecção do útero

 

UMBURANA Cicatrizante, anti-inflamatório Cólica Febre Gripe Gastrite Infecção de útero “Torrar a vagem da umburana no fogo, fazer pó”