DIÁLOGOS

Ileno da Costa, decano de Assuntos Comunitários, detalha a atuação da UnB frente à pandemia

 

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Ilustração: Igor Outeiral / Secom UnB

Texto Ileno Izídio da Costa*

 

Desde o início do atual surto de coronavírus (Sars-Cov2), em março de 2020, estamos lançados nesta experiência inusitada e de profunda preocupação frente a uma doença que se espalhou rapidamente pelo mundo, com múltiplos impactos, muitos deles ainda em estudo pelas organizações científicas.

 

Decorrido um ano, temos, no mundo, 130 milhões de casos detectados, mais de 73 milhões de recuperados e quase três milhões de mortes. O Brasil, infelizmente, tornou-se o segundo país de maior contaminação e mortes, com mais de 12 milhões de casos, 11 milhões recuperados e chegando a 350 mil mortes.

 

O quadro impacta diretamente os sistemas de saúde; a economia do país; a renda das famílias; a saúde mental das pessoas; o acesso da população a bens essenciais, como alimentação, medicamentos, transporte, entre outros.

 

Torna-se clara a perspectiva de que enfermidades são fenômenos a um só tempo biológicos, psicológicos e sociais, construídos historicamente mediante complexos processos.

 

A UnB frente à pandemia

Antes do primeiro caso de pandemia confirmado no país, a Administração Superior da UnB estabeleceu uma estratégia de ação imediata. Foram criados três comitês de governança e cuidado, integrados e articulados: o Comitê Gestor do Plano de Contingência da Covid-19 (Coes); o Comitê de Coordenação de Pesquisa e Inovação de Combate à Covid-19 (Copei); e o Comitê de Coordenação de Acompanhamento das Ações de Recuperação (Ccar).

 

A instituição foi precursora (se não a primeira) em criar um comitê de acompanhamento e em construir um plano de contingenciamento da pandemia no ambiente acadêmico. De alguma forma, podemos afirmar que até "nos antecipamos" ao quadro, com a criação da Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu), ligada ao Decanato de Assuntos Comunitários (DAC), no primeiro mandato da atual gestão.

 

Eixos de ação

Grosso modo, podemos enfatizar três eixos de ação – mesmo correndo o risco de simplificação – que permitiram que UnB enfrentasse, e continue enfrentando, este imenso desafio.

 

O primeiro eixo trata do compromisso acadêmico e administrativo com a comunidade. A despeito dos cortes orçamentários e ataques à forma de gestão institucional por parte do governo federal, a Universidade manteve-se vigilante com a democracia interna; com a equidade de decisões colegiadas; e em constante diálogo com todos os segmentos acadêmicos.

 

A aposta foi, e continua sendo, na autonomia administrativa caracterizada na descentralização, no diálogo, e em construções coletivas. Buscou-se integrar processos de trabalho e relações entre os diferentes segmentos. Esse eixo configurou-se por reuniões coletivas; ações e resoluções baseadas em evidências (científicas e existenciais); documentos de orientação; boletins informativos; criação do repositório on-line Covid-19 UnB em ação, que reúne o histórico de ações acerca da pandemia.

 

O segundo eixo é o direcionamento para uma universidade promotora da saúde, e segue em plena construção na UnB. Ele compreende a cultura da saúde como produto de um amplo conjunto de fatores, como alimentação, habitação, saneamento, boas condições de trabalho, oportunidades de educação ao longo da vida, ambiente físico limpo, apoio social para famílias e indivíduos, estilo de vida responsável, entre outros.

 

O terceiro eixo refere-se a ações de cuidado e de acompanhamento. Sua palavra-chave é o cuidado, e sua ética correspondente é a ética do cuidado. Aqui me recordo do filósofo alemão existencialista Martin Heidegger para quem o cuidado (Sorge) é a essência da existência, e a temporalidade é o sentido de ser do cuidado. Para ele, o existir e o cuidado de fato estão no âmbito das ocupações, isto é, o cuidado como ocupação (Besorgen) e como preocupação (Fürsorge).

 

Diversas ações de inclusão e proteção social de docentes, estudantes e técnico administrativos foram implementadas. Foi dada atenção especial a estudantes em vulnerabilidade socioeconômica. Entre as iniciativas de promoção de saúde e de saúde mental estão: rodas de conversa; orientação psicológica a docentes; grupo de psicoterapia na Casa do Estudante; conversações sobre saúde indígena, gestão do tempo, planejamento de estudos na pandemia; oficina de educação de filhos em período de pandemia; oficina de nutrição e ansiedade; terapia comunitária on-line; práticas de manejo de estresse, canções e reflexões.

 

De forma concomitante, e não menos importante, foram ampliados editais de inclusão digital, de auxílio alimentação, e bolsas de auxílios da assistência estudantil. O apoio e o acompanhamento de docentes e técnicos também se impôs como necessidade especial nos períodos em que as taxas de contágio por coronavírus atingiram números alarmantes.

 

Toda esta complexidade e os desafios diários de enfrentamento do cenário atual nos apontam para que estejamos juntos no desvelamento desta pandemia, estudando-a, pesquisando-a e, acima de tudo, solucionando-a. Sigamos, como conceituou Heidegger, preocupados, ocupados e cuidadosos.