Da descoberta da primeira vacina até a erradicação de doenças, descubra curiosidades sobre o método mais eficaz de imunização

 

 

Texto Henrique Gomes

 

O inglês Edward Jenner foi o responsável pela descoberta da primeira vacina em 1798. Como médico, ele dedicou parte de sua vida a investigar pessoas acometidas pela varíola. Não há registros sobre a origem da doença, mas ela assolou inúmeras civilizações durante milênios. A varíola era transmitida por vias áreas e pelo contato físico entre pessoas e se caracterizava por feridas e erupções cutâneas que poderiam causar deformações na pele e gerar infecções mortais. O vírus também podia estar presente em superfícies. 

 

Ilustração Marcelo Jatobá

Edward JennerPrimeiramente, Jenner observou que pessoas infectadas por uma doença bovina, o cowpox, tornavam-se imunes à varíola. A enfermidade se assemelhava à varíola humana pelo surgimento de lesões cutâneas infeccionadas, mas sem efeitos tão nocivos. 

 

Para testar a hipótese, Jenner inoculou o pus encontrado nas feridas de Sarah Nelmes, ordenhadora local contaminada pela cowpox, em um menino de oito anos, James Phipps. O garoto adquiriu sintomas leves da doença bovina. Em seguida, Jenner inoculou em Phipps o pus de uma pessoa contaminada pela varíola. Phipps não apresentou qualquer sintoma e fez parte de um momento histórico, o nascimento da vacina. 

 

Desta forma, pela primeira vez, foi possível entender a criação de anticorpos por meio da inoculação de um vírus, que ficou conhecido como vírus vaccínia, que se refere à palavra em latim vaccina, que quer dizer “da vaca”. Por isso, a vacina recebeu este nome. 

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a varíola foi erradicada somente em 1980. Isso só foi possível após uma longa campanha de vacinação para prevenir o contágio do vírus.

 

No Brasil, a primeira vacina chegou em 1804. Naquele período, uma lei de vacinação pública foi criada como medida profilática para os casos de varíola. Contudo, apenas cem anos depois é que o processo de vacinação torna-se sistemático por meio de campanhas de saúde governamentais. 

 

Quando a vacinação foi instituída no Brasil, surgiram diversos boatos de que a medida era uma forma de extermínio das camadas sociais mais vulneráveis da sociedade. Devido à falta de informação, a população entrou em confronto com instituições sanitárias para evitar a vacinação compulsória. O período ficou conhecido como Revolta da Vacina.

 

Mais de um século depois, estamos diante de um grande impasse. Autoridades públicas e sanitárias enfrentam um crescente movimento antivacina, que faz oposição à vacinação pública e é responsável pela disseminação de informações incorretas, as chamadas fake news. Como consequência, em 2018, o Brasil perdeu o certificado de país livre do sarampo, dado pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) em 2016.

 

Algumas doenças geram mais dificuldades para a criação de vacinas. O vírus HIV, por exemplo, causador da Aids, danifica o sistema imunológico e torna o corpo humano vulnerável a doenças. Por isso, tomar antivirais e prevenir infecções são as medidas mais indicadas para controlar a enfermidade. 

 

Outra doença que carrega muitos desafios de imunização é a dengue. Atualmente existe uma vacina para a dengue, a Dengvaxia, criada e comercializada pelo laboratório francês Sanofi Pasteur. Contudo, ela só pode ser administrada em pessoas que já tiveram contato com o vírus, pois, nas demais, ela pode ampliar os riscos de evolução para o estágio mais grave da doença, a dengue hemorrágica. Outra vacina contra a dengue ainda está na terceira fase de testes, mas já com indícios de resultados seguros e eficazes.

 

O Brasil tem uma longa história de campanhas bem-sucedidas de vacinação e conscientização da população e possui um Programa Nacional de Imunizações (PNI) reconhecido mundialmente. Erradicou, por exemplo, a poliomielite em 1994. No entanto, a doença não foi erradicada no mundo e, por isso, as campanhas de vacinação ainda são muito importantes.