Márcia Abrahão, reitora da UnB, comenta a temática da revista e fala sobre conquistas e desafios das mulheres nos âmbitos da vida universitária

 

Márcia Abrahão é a primeira mulher a ocupar o cargo de reitora na UnB. Foto: Beto MonteiroComo primeira reitora mulher da Universidade de Brasília, não poderia deixar de saudar, com imensa alegria, a escolha do tema para o dossiê desta edição da revista Darcy. Os feminismos fazem parte da UnB. Eles são destaque em diversos âmbitos da vida universitária e precisam ser debatidos.

 

A partir da Reitoria e dentro dos Conselhos da Universidade, temos buscado avançar em políticas, programas e projetos na tentativa de encontrar rumos para a equidade de gênero dentro de nossa comunidade em consonância com as particularidades que afetam as mulheres, cada vez mais protagonistas na vida acadêmica.

 

Algumas ações marcadas pelas relações de gênero (mas não apenas) demonstram a pavimentação do caminho para ampliar essa presença. Desde 2017, por exemplo, o Programa Auxílio Creche destina R$485 a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica que residam com crianças de até cinco anos de idade.

 

Em 2020, duas resoluções foram aprovadas levando em consideração a licença-maternidade. Professoras passaram a dispor de mais 12 meses para comprovar produção científica em processos de credenciamento ou recredenciamento no corpo docente de programas de pós-graduação.

 

Às estudantes de pós-graduação em licença-maternidade, foram asseguradas até duas modalidades de ocorrências acadêmicas: o Trancamento Geral de Matrícula por Maternidade e a extensão adicional do prazo máximo de permanência de seis para doze meses.

 

Logo no início da nossa gestão, acabamos com a norma que impedia estudantes gestantes de continuar morando na Casa do Estudante Universitário (CEU). Começamos também a instalar fraldários em toda a UnB, sendo que 41 já estão prontos para uso e mais 37 serão entregues ainda este ano. Uma creche pública está sendo construída, no campus Darcy Ribeiro, em parceria com a bancada federal do Distrito Federal. Estamos buscando junto ao Governo do Distrito Federal (GDF) uma possível reserva de vagas para estudantes, servidoras e trabalhadoras terceirizadas.

 

No último mês de julho, após sermos procuradas por mães servidoras técnicas da UnB, foi criada uma comissão para propor uma política específica da UnB para mães e cuidadores.

 

Importante também foi a aprovação, pelo Conselho de Administração (CAD), da Política de Prevenção e Combate ao Assédio Moral, Sexual, Discriminações e Outras Violências, em março deste ano. Neste momento, está em discussão o fluxo para atuação dos diferentes setores da UnB.

 

Com mais intensidade no mês de março, mas não apenas nele, a Universidade debateu e propôs ações para o enfrentamento da violência e da desigualdade de gênero, na instituição e fora dela. Temos docentes e pesquisadoras dedicadas exclusivamente a isso, com empenho total.

 

Como parte, desde 2017, da rede do projeto Maria da Penha vai à Escola, coordenado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), a UnB atua em diversas frentes para promover soluções e estratégias para a prevenção e o enfrentamento da violência contra a mulher no DF.

 

Com a criação da Secretaria de Direitos Humanos, que conta com a Coordenação dos Direitos da Mulher, demos passo importante para trazer, definitivamente, essas questões ao primeiro plano de preocupações na UnB. Posso afirmar com tranquilidade que a UnB se constitui como fórum permanente para a luta contra o sexismo, o machismo e a misoginia.

 

Nós, mulheres, já somos maioria entre estudantes de mestrado (52%) e doutorado (53%). Nos programas de iniciação científica, chegamos a 62%, tanto como bolsistas quanto como voluntárias. Ainda precisamos aumentar nossa participação em cargos de chefia, direção e assessoramento. Sobretudo, também queremos mais mulheres nos cursos de graduação das ciências exatas em geral e das engenharias em particular, nos quais somos menos de 25%.

 

Vamos chegar lá. E esta Darcy faz parte dessa vontade e desse esforço transversal de abordagem, vislumbrando além dos estudos de gênero. Queremos continuar nessa toada ampla pelas mulheres na ciência, porque esse é o nosso canto de plena liberdade. Como diz o tema da nossa Semana Universitária deste ano, O Futuro é Feminino!

 

UnB, sua linda. Agora, hoje e sempre.