Mais que revistinhas ou histórias em quadrinhos, os zines são meios de comunicação com uma tradição contestadora à cultura dominante.

 

Materia zines site

 

Texto: Vinícius de Souza e Wivian Weller

 

A palavra nasce nos Estados Unidos, da contração do termo fanzine, que é a redução fônica da expressão fanatic magazine. As publicações representam não só uma orientação individual, mas coletiva e geracional, pertencentes ao chamado modus operandi da subcultura, ou cultura underground. Seu slogan é: do it yourself ou faça você mesmo, lema criado e praticado pela cultura jovem em diferentes momentos da história. Como exemplo, podemos citar as publicações de ficção científica do início da década de 1930 que levaram jovens leitores à produção e à troca de informações. Outro momento protagonista dos zines foi dentro da juventude contestadora do movimento punk dos anos setenta, que espalhava sua rebeldia ao sistema por meio dessas publicações. Assim, a essência de um zine é a troca, o compartilhamento de ideias.

 

A história eclética dos zines associa-se às manifestações da juventude que se expressa por meio da criatividade, do saber em movimento, do protesto. A vontade de agir e de transformar a realidade social encontra terreno fértil nessas publicações, visto que elas não restringem a imaginação de seus criadores. A coletividade livre e plural dos zines, assim como o baixo custo de sua produção, ultrapassa os limites engessados das diagramações de revistas e livros. Vale a possibilidade de narrar, poetizar ou até mesmo desenhar a experiência comunicativa de mundo nos mais diferentes formatos. Logo, por que não usar os zines como recurso didático?

 

A atividade, em sala de aula, não só promove uma maior interação entre seus produtores como também os ajuda no aprendizado sobre seu espaço social. Há nessas publicações uma visão geracional que se reflete na convivência dos participantes com seus pares, grupos de amigos, colegas e familiares. A produção de zines fomenta, ainda, um conhecimento provocativo, colaborativo e consciente do lugar ocupado socialmente pelo jovem em sua comunidade escolar. Isso valoriza a prática da pluralidade de ideias e desperta o interesse dos estudantes por um recurso didático feito por eles e para eles, ou seja, que tenha sentido para sua existência. Uma prática efetivamente transformadora e mobilizadora da potência da educação pública no Brasil.

 

Ao incorporar os zines no ambiente educacional, a escola valoriza o conhecimento crítico e contestador, transforma o jeito de ensinar e aprender e dá significado a um trabalho de comunicação e interação entre os estudantes e sua comunidade escolar. Como afirma Paulo Freire, para além de ser o responsável da sua formação educacional, o educando é também integrante de uma comunidade que está sujeita às suas ações, pois é nela que ele se comunica e interage com seus pares e desenvolve sua consciência crítica de mundo.

 

A produção paralela de zines junto ao processo formativo escolar contribui para os estudantes se sentirem motivados a comunicar e compartilhar suas ideias, seus conhecimentos e seus problemas, um incentivo para a permanência e a participação do estudante no ambiente escolar. Por meio do uso de zines como recurso pedagógico, o espaço de fala acontece, ou seja, espaços reais de comunicação entre discentes e docentes se tornam realidade.

 

*Vinícius Silva de Souza é professor da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/FE/UnB). Sua pesquisa de doutorado sobre zines foi premiada pela Universidade Livre de Berlim na categoria propostas inspiradoras da Semana Temática da Docência 2023.

 

*Wivian Weller é professora titular da Faculdade de Educação (FE/UnB) e bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq (PQ1B). Atualmente, é coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/FE/UnB)