Kasthuri Venkateswaran é pesquisador do Laboratório de Propulsão à Jato (Jet Propulsion Laboratory) da Nasa e realiza pesquisas em parceria com o cientista Marcus Teixeira da Universidade de Brasília. Foto: Jenna Schoenefeld/ STAT news.
Texto: Marcela D’Alessandro
Cientista de origem indiana, o microbiologista Kasthuri Venkateswaran é responsável por fazer a caracterização dos microorganismos encontrados nas salas de montagem da agência espacial Nasa. Em entrevista à revista Darcy, ele explica a importância da pesquisa e do programa de proteção planetária, além de contar sobre o trabalho conjunto com o pesquisador da Universidade de Brasília Marcus Teixeira e sobre o papel de países como o Brasil na área.
Darcy – Por que é importante estudar microorganismos e por que a Nasa tem interesse nesse tipo de pesquisa?
Kasthuri Venkateswaran – Estudar microrganismos no espaço e nas instalações da Nasa é crucial por várias razões:
- Proteção planetária: para evivitar a contaminação de outros corpos celestes com microrganismos da Terra, precisamos entender quais micróbios podem sobreviver a viagens espaciais e como eles podem interagir com ambientes extraterrestres. Da mesma forma, precisamos proteger a Terra de potenciais vidas microbianas extraterrestres que podem ser prejudiciais ao nosso ecossistema.
- Saúde dos astronautas: os micróbios fazem parte do microbioma humano e desempenham um papel vital na nossa saúde. No ambiente confinado e único de uma espaçonave ou estação espacial, o equilíbrio microbiano pode ser alterado, o que pode levar a problemas de saúde. É importante entender essas mudanças para mitigar potenciais riscos à saúde.
- Astrobiologia e detecção de vida: estudar como os micróbios sobrevivem no espaço pode fornecer pistas sobre as possibilidades de vida em outros lugares do universo. Isso pode nos informar sobre que tipo de sinais devemos buscar ao procurar vida extraterrestre.
- Corrosão e degradação de materiais: certos micróbios podem causar danos aos materiais das naves espaciais, levando ao mau funcionamento do equipamento. Entender esses micróbios pode ajudar a projetar materiais mais resistentes à degradação microbiana.
- Desenvolvimento de sistemas de suporte à vida: a pesquisa sobre micróbios pode contribuir para o desenvolvimento de sistemas de suporte à vida que reciclam ar, água e resíduos, que são cruciais para missões espaciais de longa duração.
- Entender processos biológicos básicos: o ambiente único do espaço oferece uma oportunidade para estudar processos biológicos básicos sob condições de microgravidade e radiação cósmica, o que pode levar a novos insights aplicáveis em vários campos científicos.
Em conclusão, o estudo de microrganismos no espaço e nas instalações da Nasa é um esforço multidisciplinar que tem profundas implicações para a astrobiologia, a saúde humana, o design de naves espaciais e o futuro da exploração espacial.
Darcy – O que é o programa de proteção planetária e qual o papel de países como o Brasil nessa iniciativa?
KV – A proteção planetária é um princípio orientador no projeto de uma missão interplanetária, visando evitar a contaminação biológica tanto do corpo celeste alvo quanto da Terra. Esse princípio está enraizado no Tratado do Espaço Sideral de 1967, assinado por mais de 100 países, incluindo o Brasil.
O programa de proteção planetária envolve dois tipos de requisitos de missão:
- Contaminação adiante: preocupa-se em evitar que os organismos da Terra (particularmente micróbios) contaminem outros corpos celestes. A preocupação é que avida baseada na Terra possa comprometer a busca por vida extraterrestre nativa ou até mesmo perturbar potenciais ecossistemas em outros planetas ou luas.
- Contaminação de volta: isso se concentra em proteger a biosfera da Terra de possíveis formas de vida extraterrestres que podem ser trazidas de volta por espaçonaves. A preocupação aqui são os efeitos desconhecidos que esses organismos poderiam ter se entrassem no planeta.
O Brasil, como signatário do Tratado do Espaço Sideral, concorda com os princípios de proteção planetária e deve respeitá-los durante quaisquer missões espaciais que realize ou de que participe. Embora o programa espacial brasileiro (gerenciado pela Agência Espacial Brasileira) não seja tão avançado ou bem financiado quanto os de países como Estados Unidos, Rússia ou China, ele vem crescendo constantemente. O Brasil lançou seus próprios satélites e também esteve envolvido em parcerias internacionais, como o acordo com os Estados Unidos para lançar satélites comerciais a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão.
Nessas e em futuras iniciativas, espera-se que o Brasil siga esses princípios, garantindo que quaisquer atividades de exploração espacial em que se envolva ou que apoie não levem à contaminação prejudicial de outros corpos celestes ou da Terra. À medida que mais países se tornam capazes de lançar missões interplanetárias, seu papel na adesão e promoção da proteção planetária torna-se cada vez mais importante.
Darcy – Como é compartilhar esse tipo de pesquisa e descobertas com um cientista brasileiro, que representa a Universidade de Brasília?
KV – A Nasa tem uma longa história de colaboração internacional em ciência espacial e planetária, e cientistas brasileiros têm feito contribuições significativas em vários campos. A Universidade de Brasília, sendo uma das principais instituições de ensino e pesquisa do Brasil, provavelmente estará envolvida em tais esforços colaborativos. O professor Marcus é um dos mais renomados evolucionistas e taxonomistas moleculares de fungos do mundo. Trabalhar com ele é de grande importância na caracterização genética de fungos.
Darcy – O que você poderia dizer aos nossos estudantes que almejam experiências com instituições de relevo internacional, como a Nasa?
Buscar Educação STEM: os campos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (Science, Technology, Engineering and Mathematics) são fundamentais para a exploração espacial. Adquirir uma base sólida nessas áreas é crucial.
- Desenvolver habilidades específicas: dependendo de seus interesses, os alunos podem se concentrar em áreas como astronomia, física, engenharia mecânica ou aeroespacial, robótica, biologia ou ciência da computação. Desenvolver habilidades em análise de dados, programação e resolução de problemas complexos também pode ser benéfico.
- Mantenha-se informado: mantenha-se atualizado com as pesquisas atuais e os avanços na exploração espacial. Acompanhe as descobertas e missões da Nasa e tente entender os princípios científicos por trás delas.
- Envolva-se: participe de clubes de ciências, competições, estágios e outras atividades extracurriculares relevantes. Isso pode fornecer experiência prática valiosa e oportunidades de rede de contatos (networking).
- Aproveite as oportunidades: candidate-se a bolsas de estudo, estágios ou bolsas na Nasa ou em outras agências espaciais internacionais. Muitas dessas organizações oferecem programas para estudantes.
- Aprenda inglês: o inglês é a principal língua da comunicação científica internacional. A proficiência em inglês será benéfica ao colaborar com cientistas de todo o mundo.
- Colabore: a ciência é muitas vezes um esforço colaborativo. Procure oportunidades para trabalhar com outras pessoas em sua área de interesse, incluindo professores, colegas e pesquisadores.
- Persevere: uma carreira em ciência espacial pode ser desafiadora e exigir muito trabalho duro. Não desanime com contratempos. Lembre-se, cada passo, por menor que seja, o aproxima do seu objetivo.
- Mantenha o panorama maior em mente: a exploração espacial é sobre responder a perguntas fundamentais sobre nosso universo e nosso lugar nele. Lembre-se sempre do panorama maior e deixe que ele o motive e guie em seus estudos e carreira.
- Trabalhar com a Nasa ou instituições similares é um objetivo alto, mas certamente é alcançável com dedicação, trabalho árduo e paixão pela descoberta e exploração