CARTA DAS EDITORAS

 

Thaïs de Mendonça Jorge e Marina Simon

 

A palavra universidade vem do latim universĭtas, que quer dizer universalidade, totalidade. Surgiu para se referir ao conjunto de professores e estudantes reunidos em uma mesma instituição, conectados por interesses comuns. Criadas no século XI na Europa, foi a partir do século XVI que as universidades passaram a ser protagonistas na produção do conhecimento, posto que ocupam até hoje em diversos países. No Brasil, as instituições públicas de ensino superior são responsáveis por mais de 90% da produção científica, e 60% desse total se deve a apenas 15 universidades públicas (federais e estaduais), incluindo a Universidade de Brasília (UnB), de acordo com o relatório Research in Brazil, publicado em setembro.

 

Apesar de esses dados demonstrarem que o Brasil depende quase que totalmente das universidades públicas para se desenvolver e melhorar a vida da população, assistimos a uma série de questionamentos sobre o papel dessas instituições. E junto com as críticas, vêm também reduções orçamentárias por parte do governo federal.

 

Estamos em um momento-chave em que urge mostrar para a sociedade o que é e para que serve uma universidade. Essa é a proposta do dossiê desta edição da revista Darcy. Nossa equipe de jornalistas apresenta dados, desafios, perspectivas futuras, os impactos sociais e econômicos, o diálogo constante com a sociedade, mostrando serviços prestados, projetos e pesquisas que beneficiam milhões de brasileiros.

 

Apesar de não ter havido aumento dos valores aplicados por estudante (o Brasil destina atualmente US$/PPC* 2.525 por pessoa entre zero a 24 anos), as universidades brasileiras conseguiram elevar o grau de eficiência e eficácia na gestão, como aponta o entrevistado desta edição, professor Nelson Cardoso Amaral, especialista em financiamento da educação. Porém, para que o funcionamento de uma universidade tenha êxito, é necessário articular, combinar e mobilizar fatores: docentes, estudantes, programas, a escola – desde o maternal –, a sociedade, as instituições, incluindo o parlamento e os ministérios.

 

Segundo o filósofo francês Jacques Rancière (2017)1, é “o conhecimento da distância exata que separa o saber da ignorância que permitirá aproveitar todas as experiências, todos os caminhos, todas as inflexões, mas também todos os investimentos para encurtar as distâncias entre a prática do embrutecimento e a prática da emancipação intelectual”, que os tempos atuais, principalmente no Brasil, requerem. De acordo com o autor, “esquecer e não partilhar os caminhos até agora percorridos por nós e pelos nossos alunos”, é aceitar que a “lógica embrutecedora” da inoperância se sobreponha à “vontade emancipatória da ignorância”, no sentido de “fazer da coisa ignorada um objeto de saber”.

 

Queremos com a edição de número 23 da revista Darcy compartilhar e discutir os caminhos percorridos. Acreditamos que a Educação é o mais antigo e complexo sistema do mundo, que constrói e repassa conhecimento – esta bomba incendiária, este material precioso que a tantos ameaça e que, por isso, tantos querem anular.

 

Em nome da equipe da Secom, desejamos a todas(os) uma boa leitura!

 

* Dólares corrigidos pelo Poder de Paridade de Compra.

1 Rancière, Jacques. O espectador emancipado. Lisboa: Orfeu Negro, 2017.