a lingua como patrimonio

Por que uma língua em vigor precisa de museu?

 

Texto: Vanessa Tavares

 

No dia 5 de novembro, é comemorado o Dia Nacional da Língua Portuguesa. Instituída em 2006, a data foi escolhida em homenagem ao nascimento de Rui Barbosa, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Coincidência ou não, neste mesmo ano, foi criado o Museu da Língua Portuguesa. 

 

Mas você já se perguntou por que criar um museu – que segundo senso comum é lugar para “coisas do passado” – dedicado a uma língua em pleno uso e vigor? 

 

Muito longe do que se crê popularmente, museus abrigam tudo aquilo que fazemos questão de mostrar e manter vivo. De acordo com seu estatuto, eles têm a função de: conservar, investigar, comunicar, interpretar e expor, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural. E têm como um dos seus princípios fundamentais a universalidade do acesso, o respeito e a valorização à diversidade cultural. 

 

Museus são, portanto, instrumentos de preservação da memória, da cultura e do patrimônio material e imaterial – olha nossa língua portuguesa aqui! Abrigam conhecimento de diferentes campos do saber. Por isso mesmo, temos as mais diversas opções de museus para visitar a depender do nosso interesse, como: arte, tecnologia, ciências naturais, história, ecologia, antropologia, futebol, medicina, matemática, música, cinema, entre outras. Eis, então, o sentido de haver museus dedicados a uma língua ou grupo de línguas. 

 

As exposições, nestes espaços, geralmente contam com recursos tecnológicos multimídias, proporcionando aos visitantes experiências sensoriais, visuais, interativas. Alguns acervos são completamente virtuais, inclusive, essa foi a salvação do Museu da Língua Portuguesa em 2015, quando ele foi atingido por um incêndio que consumiu dois andares da sua estrutura na Estação da Luz, cartão postal da cidade de São Paulo. Graças a backups, todo o acervo foi recuperado, e o museu, após reconstrução do seu espaço físico, pôde ser reaberto em 2021. 

 

Além da nossa Flor do Lácio1, outras línguas possuem museus dedicados exclusivamente a elas, por exemplo: o Museu da Língua Canadense é voltado às línguas faladas no país e seu objetivo é valorizá-las e destacar seu papel no desenvolvimento da nação. O Museu Nacional da Escrita Chinesa foca a preservação da herança cultural dos caracteres chineses e a sua evolução ao longo da história da China. E, na África do Sul, o Museu da Língua Africâner dedica-se à preservação e valorização deste idioma e suas ramificações. Infelizmente, nem todos os idiomas têm um museu para chamar de seu, mas muitos deles possuem espaços e exposições específicas em museus de outra natureza. 

 

Vale lembrar que quando falamos em língua estamos tratando de todas as suas variantes, não apenas da norma padrão, mas de todos os falares dos povos que se expressam e interagem nesta língua nos seus mais distintos contextos. Portanto, museus de idioma buscam abranger as diversas manifestações de uma língua, seja escrita, falada, cantada, versada... 

 

Saiba mais 

Museu da Língua Portuguesa https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/ 

Museu da Língua Canadense https://www.languagemuseum.ca/ 

Museu Nacional da Escrita Chinesa http://www.wzbwg.com/en/ 

Museu da Língua Africâner https://www.taalmuseum.co.za/english/