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Prevista desde o primeiro Código Eleitoral (1932), a “máquina de votar” revolucionou a maneira como se pratica a cidadania no Brasil 

 

Texto: Renata Gomes

 

DÉCADA DE 1950 

Primeiras tentativas de automatização 

Em 1953, o radiotelegrafista Raimundo da Silva apresentou a ideia do Televoto. Inspirada no telefone e na televisão, almejava recolher e contar votos de maneira automática. Em 1958, Sócrates Ricardo Puntel desenvolveu a urna mecânica. O equipamento funcionava com teclas e duas réguas, que indicavam os cargos a serem preenchidos no pleito. Por sua complexidade, o modelo nunca foi adotado. 

 

DÉCADA DE 1980 

Informatização da Justiça Eleitoral 

O uso da computação para gerir as eleições deu-se entre 1985 e 1986 por meio de cadastro único automatizado de eleitores, promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 1989, houve a primeira experiência de voto eletrônico, em Brusque (Santa Catarina). Na cidade, 373 eleitores votaram usando o computador e viraram notícia logo após o encerramento do pleito. 

 

DÉCADA DE 1990 

O protótipo 

Em 1995, foi apresentado o protótipo da urna eletrônica pela comissão formada por especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), além de técnicos da Justiça Eleitoral, das Forças Armadas, do Ministério das Comunicações e do então Ministério da Ciência e Tecnologia. 

Pequeno e leve, o modelo permitia o registro do voto pelo número do candidato ou partido e era de fácil uso pelo eleitor, com teclado semelhante ao telefone. O instrumento também atendia outros requisitos, como ser durável, economicamente viável e movido a baterias. O projeto foi concluído em cinco meses e seu primeiro nome foi Coletor Eletrônico de Votos (CEV). 

 

Adoção da urna eletrônica 

O primeiro modelo de urna eletrônica foi utilizado por 57 cidades brasileiras nas eleições municipais de 1996. No pleito seguinte, em 1998, ela teve sua capacidade de processamento e memória ampliada e foi usada em 537 municípios. Também foi incluído o registro fotográfico em preto e branco dos candidatos. A imagem colorida passou a ser disponibilizada em 2018. 

 

urna TSE

A urna eletrônica atual é conectada a um leitor de identificação biométrica que reconhece a identidade do cidadão e tem mais de 90 sistemas eleitorais de segurança. Foto: TSE

 

ANOS 2000 

Eleições totalmente digitais 

Nas eleições municipais de 2000, pela primeira vez, 100% do eleitorado pôde votar usando as urnas eletrônicas. O novo modelo possuía saída de áudio para fone de ouvido, contemplando pessoas com deficiência visual. Nos anos seguintes, destacaram-se as alterações informacionais voltadas à segurança do sistema. 

 

A biometria 

Em 2008, o TSE implementou o sistema de identificação de eleitores por meio da biometria em três cidades brasileiras. O uso de impressões digitais reduziu a intervenção humana no ato de votação e ampliou a segurança e a confiabilidade do processo. Isso porque o equipamento biométrico lê as digitais do votante e faz sua identificação eletrônica junto ao banco de dados da Justiça Eleitoral. Assim, um cidadão não consegue se passar por outra pessoa. 

Após o sucesso do projeto-piloto de biometria, a iniciativa seguiu para outros 57 municípios nas eleições de 2010. O recurso foi suspenso em 2020, devido à pandemia de covid-19, mas espera-se que até 2026 quase a totalidade do eleitorado esteja apta a votar com identificação pela impressão digital. 

 

Teste Público de Segurança (TPS) 

Em 2009, cerca de 40 especialistas em informática e eletrônica reuniram-se para realizar testes de ataque aos sistemas eleitorais. O objetivo era encontrar problemas ou fragilidades, e nenhuma investida foi bem sucedida. A realização do TPS passou a ser obrigatória em 2016, de preferência no ano anterior às eleições. O último teste ocorreu entre 22 e 26 de novembro de 2021. Ao todo, 109 participantes já se voluntariaram para testar o sistema. Qualquer cidadão brasileiro com mais de 18 anos pode participar da iniciativa apresentando ao TSE um plano de ataque às urnas. 

 

Como ela é 

A urna eletrônica atual tem 15 cm de altura, 27 cm de profundidade, 42 cm de largura e pesa 8 kg. Ela está conectada a um leitor de identificação biométrica que reconhece a identidade do cidadão e tem mais de 90 sistemas eleitorais de segurança. O TSE assegura que o conjunto dessas barreiras garante a segurança dos mecanismos de votação e a apuração das eleições no Brasil. 

 

A urna pelo mundo 

A tecnologia eletrônica é adotada por 23 nações para eleições gerais e por outras 18 para pleitos regionais. Entre esses países estão o Canadá, a Índia e a França, além dos Estados Unidos, que usam urnas eletrônicas em alguns estados. Os dados são do Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (Idea Internacional), organização intragovernamental com 34 países membros.