darcy presente

Para o antropólogo fundador da UnB, indígenas não são objeto de estudo, mas gente de existências livres e solidárias. Foto: Fundação Darcy Ribeiro (1949-1951)

 

Texto: Vanessa Vieira e Gisele Pimenta

 

Mais que dever histórico, lembrar de Darcy Ribeiro em seu centenário de vida é um privilégio desta revista que carrega o nome de um dos antropólogos mais respeitados do país, falecido há 25 anos. Seu legado, mais do que nunca, reverbera a necessidade urgente de a Universidade ultrapassar seu academicismo e se colocar em ação na luta por um Brasil democrático e menos desigual. 

 

A importância da data nos colocou um desafio: como resgatar a memória do primeiro reitor da UnB sem recorrer às temáticas sobre sua vida e sua obra, documentadas em extenso acervo público, incluindo a edição número 15 desta revista. 

 

Frente ao dilema, a Fundação Darcy Ribeiro nos presenteou com o ensaio fotográfico que estampa a capa deste número. São imagens inéditas do ritual sagrado dos povos indígenas do Alto Xingu, o Kuarup, que homenageou o antropólogo em 2012.

 

O simbolismo das fotos iluminou outra realidade evidente, porém mascarada pela onda de desmonte das políticas públicas voltadas a grupos minoritários. A escalada dos conflitos em terras indígenas nos últimos anos, bem como a devastação ambiental e as violações aos direitos desses povos, aponta o relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil (2021), do Conselho Indigenista Missionário.

 

Registro dramático desse quadro foi o assassinato do jornalista britânico Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, em junho, na região amazônica do Vale do Javari. A equipe da Darcy já produzia as reportagens deste dossiê quando recebemos a notícia do crime. Em meio ao estarrecimento, tivemos a certeza de que retratar direitos dos povos originários é uma nobre homenagem ao fundador da UnB, que tanto defendeu esta causa.

 

Discorremos sobre pesquisadores que atuam em comunidades indígenas e desenvolvem tecnologias simples e acessíveis para combater o bicho de pé. Trazemos um panorama sobre a relevância de um sistema de saúde específico para essas populações. Para fechar a temática, entrevistamos o escritor Ailton Krenak, primeiro indígena doutor honoris causa pela UnB, que destaca a articulação dos povos na defesa de territórios tradicionais.

 

A Darcy também conta, por meio de fotos, narrativas contemporâneas sobre o campus universitário batizado com o nome do antropólogo. As imagens foram analisadas por uma pesquisa de doutorado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. A revista ainda recupera os principais momentos da 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC. O maior evento científico da América Latina ocorreu na UnB, em julho.

 

Outras reportagens retratam os novos olhares sobre a Independência do Brasil, que completou 200 anos em setembro, e os resultados de uma pesquisa promissora sobre uma espécie de crocodilo que se alimentava de plantas. Além do exemplo de um projeto multidisciplinar da Faculdade de Medicina para diagnosticar transtornos de aprendizagem em crianças, e da discussão sobre a importância do Museu da Língua Portuguesa, lugar de preservação e reconhecimento da memória, cultura e patrimônio de um povo. Boa leitura!