Instituto Central de Ciências, Campus Darcy Ribeiro. Foto: Luis Gustavo Prado
Texto: Renata Bezerra
Estruturas em concreto que se abrem para o céu de Brasília e se fundem às paisagens naturais e jardins característicos do Cerrado do Planalto Central. O campus Darcy Ribeiro é parada quase obrigatória para quem quer conhecer mais do projeto arquitetônico da capital federal. Diariamente imerso nessas cenas, Eduardo Oliveira Soares decidiu transformar a sua paixão pelos espaços da Universidade em objeto de estudo.
A originalidade da pesquisa de doutorado do servidor do Centro de Planejamento Oscar Niemeyer (Ceplan/UnB) foi observar esse território físico por meio de imagens publicadas nas mídias sociais oficiais da instituição, denominadas por Soares como narrativas fotográficas instantâneas.
“As postagens instigam quem as observa a encontrar um nexo entre as imagens e a descobrir ou criar uma narrativa por meio de uma seleção. Isso varia de acordo com o tema, a autoria e o local das fotografias”, conta o arquiteto.
Para traçar essas características e relações entre fotos, tempo e território, o agora doutor em Arquitetura e Urbanismo reuniu mais de 4 mil imagens do campus da Asa Norte, postadas no Flickr, Facebook e Instagram da UnB entre janeiro de 2011 e abril de 2019. Destas, o trabalho classificou 400 fotografias sob a inspiração metodológica de descrição, contextualização e interpretação do filósofo Laurent Gervereau.
As categorias de avaliação consideraram aspectos técnicos, estilísticos e temáticos das fotografias, tais como local, data, autoria, composição de cores, posição da câmera e tema preponderante.
Na visão de Eduardo Soares, essas seleções apresentam modos de expressão tão variados que o sentido da narrativa oscila dependendo de quem as vê.
Além disso, o formato em mosaico das mídias analisadas pelo trabalho “apresenta-se como um mapa, onde cada observador pode guiar seu olhar a diferentes fotografias e, em consequência, histórias”, explica o pesquisador.
Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas (Maloca). Foto: Beatriz Ferraz
Narrativas instantâneas, tempo e espaço
O estudo sinaliza que parte dos acervos fotográficos é montada de forma orgânica, representando determinada cultura, em certa época. É o caso das redes sociais na internet, por meio das quais os usuários, inconscientemente, constroem arquivos e acumulam informações.
A tese contextualiza que esses sites e aplicativos, as redes sociais, mudaram a forma de sociabilização no início deste século, reelaborando a relação da sociedade com o espaço e com o tempo. Nelas, o compartilhamento de narrativas pessoais permite um vislumbre do cotidiano dos usuários sob diferentes perspectivas.
Então, levanta-se a discussão de que esses canais de comunicação trouxeram um fluxo cada vez mais desesperado e demandador de novas informações, novas fotos, novas narrativas. Soares lembra que, no mundo moderno, a informação muda muito rapidamente, sendo esta a dimensão da instantaneidade discutida pelo trabalho.
Em meio às complexidades apresentadas, o arquiteto defende ser possível ultrapassar a superficialidade das fotos, feitas muitas vezes para enquadrar o belo. Em outras palavras, dá para extrair dados sobre arquitetura, urbanismo, paisagismo e outros elementos da cidade.
Especificamente sobre as fotografias do campus Universitário Darcy Ribeiro, a pesquisa conclui que as estruturas das edificações alcançam destaque, sobretudo o concreto. As imagens também evidenciam a integração entre o interior e o exterior dos prédios; ressaltam as linhas; emolduram e são emolduradas pelo céu e pela vegetação. Por fim, as redes socais, efêmeras e de livre acesso, catalisam esse lastro de informações e se constituem como parte da formação do imaginário acerca de um território.
Confira algumas fotos da Secom/UnB: