Muito similar à lógica dos blocos de lego, os pré-moldados trazem praticidade para obras e podem facilitar a montagem de edificações. A técnica agiliza trabalhos de construção permitindo erguer prédios inteiros em poucos meses. Da reconstrução de cidades após a Segunda Guerra Mundial à edificação da Universidade de Brasília, entenda como os pré-moldados são fabricados e as principais vantagens deste material.

 

EDIT FabricapremoldadosdaNovacap PauloHCarvalho AgenciaBrasilia 01
Fábrica de pré-moldados da Novacap. Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília.

Texto: Luiza Aldser

 

O SURGIMENTO

A origem dos pré-moldados está diretamente ligada ao uso do concreto armado. Eles consistem na colocação do concreto em um molde, onde vigas, pilares e lajes são fabricados antes mesmo que a edificação da estrutura seja iniciada. Já o concreto armado consiste na utilização de concreto em uma estrutura com barras de aço.

 

Não existe registro de uma data específica para a invenção dos pré-moldados. Acredita-se que a ideia tenha surgido no Império Romano em 211 d.C (depois de Cristo). Pesquisadores descobriram uma edificação antiga, com piscinas e áreas de banho, construída com argamassa e barras metálicas. Márcio Buzar, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Brasília, nos conta outra possibilidade: os pré-moldados foram desenvolvidos em conjunto com o concreto armado e a argamassa para vasos e barcos, entre os anos de 1855 e 1877. Estudos mais recentes sugerem ainda que o primeiro uso da técnica foi na construção do Cassino de Biarritz, em 1891, na França.

 

BENEFÍCIOS

Os pré-moldados chegam previamente formatados à obra e são montados com o auxílio de máquinas. Uma construção que levaria anos para ser concluída pode ser finalizada em poucos meses. Devido à facilidade e agilidade na construção, a tecnologia foi amplamente utilizada na Europa entre 1945 e 1955 – período que compreende o pós-guerra. Após a devastação provocada pelos conflitos, foi preciso encontrar uma forma de abrigar rapidamente a população e reconstruir as cidades.

 

Atualmente, o metro quadrado de uma edificação com pré-moldados custa em média R$ 800. Despesas com transporte e logística é o que encarece o projeto, e não o preço do material. Já na alvenaria, que utiliza argamassa e tijolos, o valor é cerca de R$ 50. Apesar do concreto pré-moldado ser mais caro do que uma obra de alvenaria, o custo-benefício geralmente é mais vantajoso, pois eles são previamente contabilizados de acordo com a estrutura a ser montada. Isso evita desperdício de materiais e de recursos humanos para a equipe de obras.

 

Outra vantagem da técnica é a sustentabilidade, pois seu processo gera menos resíduos ao meio ambiente. Na construção tradicional, erros manuais são mais frequentes durante a montagem das estruturas, sendo necessário refazer processos ou até mesmo descartar materiais danificados, como tijolos e cimento, que são altamente poluentes.

 

PATRIMÔNIO BRASILEIRO

A maior e primeira edificação brasileira com o uso dos pré-moldados é o Hipódromo da Gávea – atual praça de corridas do Jockey Club Brasileiro, situado no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro. Construído em 1926, o curto prazo para a entrega da obra foi um dos fatores que levou os engenheiros a optarem pelo uso da técnica. O método também foi aplicado em diversos edifícios de Brasília. A urgência para transferir a sede do governo para o novo Distrito Federal exigia rapidez para dar vida aos planos de modernismo e à estética tombada da Capital. O material foi usado em edificações, como o Teatro Nacional, a Plataforma Superior da Estação Rodoviária e o Hospital Sarah Kubitschek.

 

Os pré-moldados também fazem parte da história da UnB. Graças à tecnologia, o arquiteto Oscar Niemeyer conseguiu que os prédios na Universidade fossem edificados em pouquíssimo tempo. No Instituto Central de Ciências (ICC) foram utilizados dois blocos com 700 metros de comprimento – um com 25 metros de largura (ala dos anfiteatros), e outro com 30 metros (ala dos laboratórios). A edificação até poderia ser feita com outro tipo de material, mas a opção pela técnica agilizou a entrega do prédio. Iniciadas em 1962, as obras foram concluídas no ano de 1971.

 

Estudo do pesquisador Marcelo Aquino Corte Real da Silva aponta o uso de pré-moldados para acelerar a construção da Faculdade de Educação e dos pavilhões de Serviços Gerais. Nas últimas décadas, a técnica foi adotada no projeto urbanístico dos novos campi da UnB em Ceilândia (FCE), Planaltina (FUP) e Gama (FGA). Ao longo de seus 60 anos de história, a arquitetura da Universidade conserva, como parte de sua identidade, o legado dos pré-moldados.

 

SAIBA MAIS

O Especial Clássicos de Brasília, da TV BrasilGov, resgata a história da produção e exibe o filme Universidade de Brasília - Primeira experiência em pré-moldados.

 

A dissertação Equilíbrio estrutural e a industrialização da construção: primeira experiência em pré-moldados na UnB contribui para a documentação histórica da Universidade.

 

O site do Centro de Planejamento Oscar Niemeyer (Ceplan) da UnB disponibiliza informações e localização das edificações do campus Darcy Ribeiro