Reitora Márcia Abrahão celebra os feitos da instituição sexagenária

 

 

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Ilustração: Igor Outeiral e Marcelo Jatobá

 

Texto: Márcia Abrahão, reitora da UnB

 

Darcy Ribeiro afirmou que a Universidade de Brasília deveria "pensar o Brasil como problema". Disse também que a UnB nascia com a missão de inovar. Foram muitos os percalços desde a sua instalação, em abril de 1962. A Universidade, entretanto, nunca deixou de encarar sem medo a realidade nacional, sempre levando em conta seu lugar de vanguarda. Ao chegar aos 60 anos, a UnB permanece "atuante como sempre, necessária como nunca", como atesta o slogan escolhido para as comemorações do aniversário

 

A instituição começa sob o signo do exclusivo. Em seus dois primeiros anos, permanece nova, pulsante, única. Se a história do país atrapalha o projeto que quer dar corpo real a uma utopia educacional, mantém-se a vontade vitalícia de construir novas formas de conhecimento e os modos de repensar noções tradicionais, de cátedra e currículo, por exemplo. Em sua origem, a UnB adota o ingresso único para todos os cursos de graduação e o trânsito interdisciplinar como complemento à formação superior. A ousadia da interdisciplinaridade, entretanto, teve de disputar espaço com o excesso de disciplinaridade ao longo das décadas.

 

Os 10 mil estudantes previstos por Darcy Ribeiro como "lotação total", no projeto inicial de organização da UnB, ficaram para trás. São quase 50 mil neste 2022. E a Universidade ganha, com o passar do tempo, outra vocação que faria o antropólogo dar pulos de felicidade. Somos um lugar de inclusão. Temos a ousadia de querer ensinar ao Brasil que é possível colocar para dentro todos que se sentem de fora. Para isso, não abrimos mão da excelência acadêmica. Sim, tudo ao mesmo tempo. Agora e no futuro. Porque a história sexagenária da UnB se fez de desafios e de conquistas.

 

Próxima ao poder federal, a Universidade parece refletir a vida nacional. É uma caixa de ressonância inquieta e vibrante. O originário grito de independência pedagógica se viu, durante 20 anos, sufocado pela constrangedora situação política antidemocrática. Nos últimos anos, enfrenta restrições orçamentárias e ataques à liberdade de cátedra que pretendem silenciar a nossa razão de ser, a verdade da nossa ciência. Nossa autonomia.

 

Mas a Universidade de Brasília se reforça nas eventuais adversidades. Fomos obrigados a reinventar a Universidade há dois anos. Primeiro, a pandemia nos deixou atônitos. Em seguida, nos trouxe à memória uma vida de superações. Colocamos a mão na massa para manter nosso tripé sobre os próprios pés. Ensino, pesquisa e extensão se juntaram a uma infinita criatividade a fim de mostrar à sociedade brasileira quem somos, o que fazemos, por que existimos, onde aplicamos as melhores energias, como devolvemos investimento e confiança à sociedade que nos sustenta.

 

Quando o vento está a favor, a Universidade vai muito além, para surpresa da torcida adversária e dos mais céticos. Instituiu as cotas como parte do sonho de justiça social e foi além do Plano Piloto para estar perto de outras comunidades do Distrito Federal. Entre as dez melhores federais brasileiras em praticamente todos os rankings nacionais e internacionais, a UnB continuará seu propósito de "plasmar mentalidades mais abertas, mais generosas e mais lúcidas", para citar outra vez o inventivo Darcy.

 

Aos 60 anos, a UnB é uma estudante rebelde que tira boas notas, ornamentada por coroas de flores do cerrado do Planalto Central. Sabe aliar maturidade a juventude, correndo riscos calculados em mil fórmulas – exatas e humanas. Traça na arquitetura de suas construções o propósito de ser sempre mais e melhor, ainda que reconheça erros para voltar ao caminho correto. Propõe que a liberdade de circulação em seus campi no Plano Piloto, em Planaltina, no Gama e na Ceilândia seja a extensão do conforto das casas de professores, técnicos, estudantes e terceirizados.

 

Necessária, a Universidade de Brasília atua no nunca e no sempre. Por isso, desejo com toda a sinceridade possível e impossível: parabéns, UnB, linda ontem, hoje e também no amanhã de um longo futuro.

 

*Reitora da Universidade de Brasília